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O novo primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, do partido conservador Nova Democracia tomou posse em 8 de julho. A vitória de Mitsotakis foi saudada por analistas em todo o mundo como uma derrota do populismo e uma possível retomada da estabilidade financeira e do crescimento econômico. Mas em um país que enfrentou uma das piores crises financeiras da zona do euro a partir de 2009, os desafios são muitos.
“É um excelente resultado para Mitsotakis. Seu partido é majoritário no Parlamento, o que fortalece sua posição para propor e aprovar ideias econômicas mais liberais. Porém, não será uma tarefa fácil”, disse Yiannis Mouzakis, coeditor do site de economia MacroPolis.
O novo primeiro-ministro prometeu cumprir as metas de campanha de reduzir impostos e atrair investimentos estrangeiros, mas a concretização desses objetivos depende da aprovação dos credores internacionais da dívida grega.
Mitsotakis, cujo pai Konstantinos foi primeiro-ministro da Grécia no início da década de 1990, é um político de centro-direita, porém muitos membros de seu partido defendem uma política mais nacionalista para o país e têm relações estreitas com a Igreja Ortodoxa. Além disso, uma grande parte do povo grego culpa o partido Nova Democracia pela administração financeira desastrosa, que causou o colapso econômico do país em 2009.
Em entrevista ao jornal Independent, Aris Hatzis, professor de filosofia e Direito na Universidade de Atenas, observou que a modernização do partido Nova Democracia será um dos principais desafios do governo de Mitsotakis. “Mas o novo gabinete é composto de pessoas com um pensamento mais liberal e que apoiam a economia de livre mercado”, disse ele.
Além do desafio de mudar a imagem do partido e de estabilizar a economia, Mitsotakis enfrentará a oposição do partido de esquerda Syriza, no governo desde 2015. Contrariando as expectativas, o Syriza obteve 31,53% dos votos, em comparação com 39,85% da Nova Democracia, o que lhe confere poder no Parlamento.
O ex-primeiro-ministro Alexis Tsipris continuará à frente do partido e, na opinião de Hatzis, ele retomará as táticas oportunistas usadas como líder do movimento de oposição antes de 2015. No entanto, terá como opositor ferrenho o antigo ministro das Finanças de seu governo, Yanis Varoufakis, líder da pequena legenda MeRa25, que com 4,44% dos votos elegeu nove deputados para o Parlamento.
Antes o terceiro maior partido no Parlamento, a legenda neonazista Aurora Dourada não conseguiu eleger deputados nessas eleições gerais. Porém, esse fracasso, segundo analistas, não significou o enfraquecimento das ideias da extrema-direita, como comprovado pela conquista de dez cadeiras no Parlamento pelo partido ultranacionalista Solução Grega. Seu líder, o apresentador de televisão Kyriakos Velopoulos, um fanático por teorias da conspiração, vangloria-se de já ter vendido cartas manuscritas de Jesus Cristo em seu programa de TV.
Apesar de ser um político liberal e anti-populista, Mitsotakis conquistou os votos de eleitores da extrema-direita com um discurso anti-imigração e com um apelo à insatisfação popular em decorrência do acordo aprovado pelo governo do primeiro-ministro Tsipris com a República da Macedônia. O acordo encerrou as disputas em torno do uso do topônimo Macedônia, um território da Grécia, pelo país dos Bálcãs, que passou a se denominar República da Macedônia do Norte.
“Mitsotakis é um político de centro-direita, mas essa não é a posição de consenso de muitos membros de seu partido”, observou Daphne Halikiopoulou, professora de ciência política na Universidade de Reading e especialista em movimentos políticos de extrema-direita.
“A recessão e a desilusão com a política nos últimos dez anos deixou marcas profundas no povo grego. Ainda é cedo para comemorar o sucesso do governo de Mitsotakis”, acrescentou Halikiopoulou