A agricultura proporciona não só a expansão demográfica da população mundial, como também recursos de subsistência muito mais sofisticados. Um artigo recente de Chen Fahu, Dong Guanghui e colegas da Universidade de Lanzhou, na China, publicado na revista Science, descreve um exemplo fascinante da absorção bem-sucedida de um novo tipo de cultivo. A cultura da cevada permitiu que os tibetanos não só povoassem as regiões mais altas do Tibet, como também de cultivá-las em épocas mais frias do ano.
As pesquisas arqueológicas indicam a presença ocasional de tibetanos e de outros grupos étnicos nos planaltos tibetanos durante pelo menos 20 mil anos, para caçar cabras, carneiros, jumentos e iaques. Os locais mais baixos dos planaltos começaram a ser colonizados por agricultores há cerca de 5.500 anos. Mas, de acordo com as pesquisas realizadas por Chen Fahu e Dong Guanghui em utensílios, vestígios de plantas, ossos e dentes de animais em 53 lugares no nordeste do planalto, os agricultores nunca conseguiram cultivar suas plantações acima de 3 mil metros de altitude até há 3.600 anos. Só então a agricultura se expandiu em lugares com uma altitude acima de 4.700 metros. O que causou essa expansão agrícola em lugares antes inóspitos?
A resposta está no tipo de colheita. O milho predomina em lugares com clima mais ameno, enquanto nos planaltos mais altos de clima frio, prevalece o cultivo da cevada, que, apesar de um período mais longo de cultivo e colheita do que o milho, é uma planta com uma tolerância maior ao frio. O cultivo da cevada revolucionou a agricultura no Oriente Médio, assim como o milho e o arroz predominam na China. O cultivo de cevada chegou no momento certo ao Tibet.
Os agricultores tibetanos conseguiram expandir suas plantações para as regiões mais altas dos planaltos, em vez de se limitarem a uma agricultura de subsistência em locais mais baixos. E por incrível que pareça o Tibet, a região conhecida como o “teto do mundo”, um habitat tão diferente das savanas africanas, que assistiu à evolução do Homo sapiens, absorveu com sucesso a cultura da cevada, um dos principais alimentos de seres humanos e animais no mundo.
Fontes:
The Economist-The barley mow
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