A Venezuela vai lançar uma moeda virtual nacional para contornar as restrições geradas pelas sanções financeiras aplicadas ao país pelos Estados Unidos, em agosto deste ano. A “bitcoin venezuelana” foi batizada de “El Petro” e será sustentada pelas reservas de petróleo, gás, ouro e diamantes do país.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, celebrou o lançamento da moeda em um discurso em seu programa semanal “Los Domingos con Maduro”, transmitido pela televisão estatal venezuelana. “O século XXI chegou! […] Quero anunciar que a Venezuela vai implementar um novo sistema de criptomoeda a partir das reservas de petróleo. A Venezuela vai criar uma criptomoeda, o Petro, para avançar em termos de soberania monetária, para fazer suas transações financeiras e vencer o bloqueio financeiro”, disse Maduro.
O presidente venezuelano afirmou estar combatendo uma conspiração de Washington e acusou os EUA de promoverem uma guerra econômica contra a Venezuela. A proposta de criação da moeda virtual partiu do ministro da Educação Universitária, Ciência e Tecnologia, Hugbel Roa, que ficou encarregado de tocar o projeto.
Apesar de ser uma moeda virtual, o El Petro terá algumas diferenças em relação à bitcoin, a criptomeoda usada mundialmente em transações online. Primeiro, porque será controlada e emitida por um governo; segundo porque estará ligada a um bem físico (as reservas do país).
A oposição reagiu com desdém ao anúncio, lembrando que a criação da moeda precisa ser aprovada pelo Congresso, algo que muitos consideram improvável. “Isso é Maduro sendo um palhaço. Isso não tem credibilidade”, disse o deputado de oposição Angel Alvarado.
O lançamento da moeda expõe como as sanções financeiras aplicadas este ano pelos EUA vêm sufocando a economia venezuelana. Em julho, o governo americano aplicou sanções financeiras a 13 funcionários e ex-funcionários do governo Maduro, por corrupção, repressão de protestos da oposição e apoio ao projeto de Assembleia Constituinte, uma proposta apresentada por Maduro para reformar a Constituição de 1999 vista pela oposição como um golpe contra a democracia, já que ampliou os poderes do presidente.
Os afetados pelas sanções americanas tiveram os bens nos EUA congelados e ficaram impedidos de fazer transações no país, o que dificultou a capacidade do governo Maduro de fazer transferências de valores no exterior. Em agosto, o presidente americano, Donald Trump, foi além e estendeu as sanções à petroleira venezuelana PDVSA.
As sanções proibiram o sistema financeiro dos EUA de realizar transações com títulos da dívida venezuelana e de comprar bônus da PDVSA, minando, assim, uma fonte crucial de recursos do governo Maduro. Na época, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, classificou a medida como “a pior agressão contra a Venezuela nos últimos 200 anos”.
Muitos venezuelanos já recorrem à bitcoin para driblar a economia problemática do país. A criptomoeda é utilizada em compras na internet e para obter dólares, cuja compra é rigidamente controlada pelo governo Maduro. Enquanto o uso da bitcoin saltou nos últimos meses, o bolívar, a moeda venezuelana, está em queda livre. O controle cambial e a impressão excessiva de moeda levaram o bolívar a uma desvalorização de 57% somente neste mês no mercado negro, que é amplamente usado no país. Com isso, o salário mínimo venezuelano afundou para meros US$ 4,30.
Ao que tudo indica, a bitcoin venezuelana não trará muito alívio para os que sofrem com o estrangulamento econômico, a escassez de alimentos e medicamentos no país. O desabastecimento gerado pela crise fez a qualidade de vida da população cair de forma tão severa que produtos triviais, como pasta de dente, se tornaram artigos de luxo, e em janeiro, o caso de um menino que morreu após ingerir plantas venenosas enquanto buscava alimentos em um terreno baldio se tornou símbolo da crise no país.
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Será que existem otários capazes de comprar esta moeda?
Carlos U Pozzobon
4 de dezembro de 2017 às 20:17
“ Será que existem otários capazes de comprar esta moeda?”
— como já dizia P. T. Barnum, empresário americano do início do século XX:
“Nasce um otário a cada minuto!”…