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Está aberta na capital paulista desde o último dia 29 de agosto — Dia nacional de Combate ao Fumo — a exposição “Propagandas de Cigarro – Como a Indústria do Fumo Enganou as Pessoas”. Organizada pela agência de publicidade novaS/B, a mostra traz 90 cartazes promocionais de várias marcas de cigarro veiculados nos EUA entre as décadas de 1920 e 1950. As peças podem ser vistas no Instituto do Câncer do governo do estado de São Paulo até o dia 14 de outubro.
A entrada é gratuita, mas é de causar tosse, pigarro e falta de ar o grau de manipulação ao qual a chamada “indústria do cigarro” foi capaz de chegar quando não havia qualquer controle sobre a veiculação de publicidade do tabaco.
Para vender cigarro, valia criar campanhas publicitárias exaltando os benefícios que o fumo poderia trazer à garganta, a bebês dizendo-se satisfeitos com as marcas de cigarro escolhidas pelo papai ou pela mamãe e até ao Papai Noel exaltando as qualidades de um Lucky Strike, em um cartaz que dizia ainda:
“Não há fumo mais selecionado do que o usado em um Lucky, e o processo exclusivo dos Luckies é a sua garantia contra a irritação na garganta… e contra a tosse”.
‘Este é o milagre de Malboro’
A própria forma como as 90 peças da exposição “Propagandas de Cigarro – Como a Indústria do Fumo Enganou as Pessoas” estão dispostas no ICESP dão conta do descalabro. A exposição se divide em três setores: “Crianças e temas familiares na propaganda de cigarro”, “Ídolos do cinema e do esporte fizeram do cigarro um símbolo de status e saúde” e “Pesquisas pseudocientíficas e profissionais da saúde aprovam o cigarro”.
Uma das peça publicitárias é capaz de causar calafrios a pneumologistas e cardiologistas. Ela diz: “De acordo com uma recente pesquisa feita em âmbito nacional, mais médicos fumam Camel do que qualquer outro cigarro”.
Um outro cartaz mostra um bebê com o dedo indicador em riste desafiando sua mãe: “Você consegue ficar sem fumar Marlboro?”, como quem diz: “duvido!”. No que a mãe responde: “Você nunca sente que fumou demais. Este é o milagre de Marlboro”.
Phillip Morris: ‘tantos amigos’ entre os jovens
O momento é oportuno para revisitar as publicidades antigas de cigarro. É oportuno porque é interessante cotejar aquelas campanhas de propaganda enganosa com o processo aberto nos EUA — onde 1.200 pessoas morrem por dia em decorrência do tabagismo — por quatro companhias de tabaco contra a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA na sigla em inglês) dizendo que as novas exigências de advertências nos maços do seu produto são inconstitucionais.
É oportuno também cotejar anúncios antigos da Philip Morris, como um celebrando o fato de que seus cigarros estavam fazendo “tantos amigos” entre os mais jovens, com o processo aberto por esta que é uma das maiores companhias tabagistas do mundo contra o Uruguai, o primeiro país da América Latina a proibir o fumo em lugares públicos, porque o governo de Montevidéu exigiu advertências maiores nos maços colocados à venda para os cidadãos platinos.
Veja abaixo alguns cartazes que mostram o que as fabricantes de cigarros são capazes de dizer em um cenário sem qualquer pressão ou regulação.
Nada contra quem decide fumar, é uma escolha individual. Contudo, é necessário que as propostas da Convenção-Quadro para o Controle do Tabagismo sejam 100% implementadas. Isso porque o fumo passivo mata e, principalmente, porque o tabagismo é considerado uma doença pediátrica. Quase 90% dos fumantes começam antes dos 18. A lei considera esse público “incapaz” por um motivo. Decidir-se por fumar, ok. Antes dos 18 anos, sem consciência dos perigos do cigarro e sem plena capacidade para tomar decisões, não!
Toda indústria é ávida por consumidores.Nem poderia ser diferente com a poderosa indústria do fumo.
Note-se a elegante e sutil propaganda sub liminar da Souza Cruz,ainda nos dias de hoje.
As crianças estão fumando mais cedo, as mulheres estão fumando mais do que antes.
Então, o que acontece?
O cigarro deixa de ser um indicativo de charme e prestígio e passa a ser, junto com a droga e a bebida,um desencadeador de graves e tristes dependências e traficâncias.
Resultado: cem anos de Souza Cruz e ela continua firme e próspera.