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Coluna: Fangio, o melhor piloto da Fórmula 1 de todos os tempos | Quatro Rodas

Coluna: Fangio, o melhor piloto da Fórmula 1 de todos os tempos

Coluna: Fangio, o melhor piloto da Fórmula 1 de todos os tempos

Na edição de abril de 1982, escrevi a matéria com o título “Uma festa para o campeão Fangio, o melhor piloto de todos os tempos”. O texto falava de uma eleição promovida por QUATRO RODAS, tendo como eleitores 75 jornalistas de todo o mundo, especializados em automobilismo, que confirmou o piloto argentino Juan Manuel Fangio como vencedor.

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Mesmo com a maioria deles, como este que vos fala, não tendo acompanhado de perto as proezas de Fangio nas pistas.

Naquela época, lembro que na redação da revista o meu colega da área técnica e de testes, Claudio Carsughi, era praticamente o único jornalista que tinha assistido a algumas corridas daquele período inicial da Fórmula 1, entre 1950 e 1958, em que Fangio competiu e foi campeão mundial cinco vezes: 1951, 1954, 1955, 1956 e 1957.

Mas os cinco títulos de Fangio, com certeza, falavam muito mais alto do que qualquer outro predicado dos principais pilotos que competiram mais de perto com ele naquela eleição: o escocês Jackie Stewart, tricampeão mundial de 69, 71 e 73; o australiano Jack Brabham (59, 60 e 66); o brasileiro Emerson Fittipaldi (72 e 74); o austríaco Niki Lauda (até então, bicampeão de 75 e 77); o britânico Graham Hill (62 e 68); o italiano Alberto Ascari (52 e 53); e outro escocês, o Jim Clark (63 e 65).

Para nós, brasileiros, Nelson Piquet já era um grande nome justamente por ser o atual campeão mundial, com o primeiro título que obteve em 1981, ano em que Ayrton Senna começou sua carreira no automobilismo com o título de campeão inglês de Fórmula Ford 1600.

O Fangio só não teve mais campeonatos porque não competiu em 1952, ano em que sofreu um acidente muito sério, em um treino, em Monza, na Itália. Perdeu o controle de seu Maserati e foi arremessado para fora do carro. Foram 40 dias de internação hospitalar e mais cinco meses com pescoço e coluna imobilizados. A ponto de quase ninguém mais acreditar em sua volta à F1.

Em 1990, na Austrália, comemorando 500 GPs da F1: James Hunt, Jackie Stewart, Denny Hulme, Nelson Piquet, Juan Manuel Fangio, Ayrton Senna e Jack Brabham Divulgação/Quatro Rodas

E também porque ele assombrou o mundo quando decidiu parar de correr, em 6 de julho de 1958, com 47 anos, logo após o GP da França, no circuito de Reims, onde conquistou um honroso quarto lugar com uma Maserati alugada.

Além dos cinco títulos conquistados em quatro equipes diferentes (Alfa-Romeo, Maserati, Mercedes e Ferrari), Fangio terminou a sua carreira de oito temporadas na F1 com o expressivo número de 24 vitórias em 52 corridas, o que lhe garante, até hoje, a maior porcentagem de vitórias na F1, com 46,15%.

O piloto com o maior número de vitórias da história da categoria é Lewis Hamilton: 103 em 289 GPs, ou seja, 35,64% (cálculo feito logo após o GP da Austrália de 2022).

Fangio é, até hoje, o piloto com maior percentual de títulos na F1 (62,5%); de poles (55,7%), de largadas na primeira fila (94,1%) e de pódios (68,6%).

Se hoje esses números impressionam, imagine, então, naquele ano de 1982, quando até então ninguém conseguia conquistar mais de três títulos mundiais.

O troféu de Melhor Piloto de Todos os Tempos foi entregue ao Fangio pelo fundador e presidente da Editora Abril na época, Victor Civita. O evento foi realizado no dia 18 de março, poucas horas antes do início das atividades do GP Brasil de 1982 (vencido por Piquet), num dos salões do Hotel Cesar Park, no Rio de Janeiro, onde costumavam se hospedar pilotos, chefes e integrantes de equipes, jornalistas, dirigentes e patrocinadores.

Ali, naquele dia, todos quiseram ouvir Fangio falar das provas de antigamente, análises da F1 atual e as tendências do automobilismo. Além de homenagearem aquele que indiscutivelmente era o melhor de todos os tempos.

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Fangio foi convidado para o evento e avisado do prêmio um mês antes. Mesmo assim, com quase 72 anos, voltou a se emocionar e chorou ao receber o troféu.

Fangio faleceu, em 1995, aos 84 anos, considerando que os dois pilotos que mais admirou na F1 foram Jim Clark e Ayrton Senna. Ele dizia que sempre quis ser o melhor desde pequeno, algo que o aproximava de Senna, em um nível pessoal.

Quando chegou ao tricampeonato mundial, por sua vez, Senna também não escondia de ninguém que para ele Fangio era o melhor.

Os dois se conheceram pessoalmente no dia 12 de maio de 1984, em um evento chamado “Corrida dos Campeões”, promovido pela Mercedes no circuito de Nürburgring, na Alemanha, por ocasião do lançamento do modelo 190E. Entre os 20 pilotos convidados estavam Prost, Lauda, Rosberg, e Senna só foi convidado, de última hora, para o lugar de Emerson Fittipaldi.

Esse dia entrou para a história do automobilismo porque, debaixo de uma chuva fina, Senna ultrapassou o pole Prost logo na primeira volta e praticamente venceu a prova de ponta a ponta, com um tempo de 1s38 de vantagem sobre Lauda, o segundo, e 3s69 sobre Carlos Reutemann, o terceiro.

Páginas da edição de Abril de 1982 que contemplaram a cobertura da premiação Reprodução/Quatro Rodas

Após a disputa, Fangio se aproximou de Senna e comentou que assistindo àquela vitória passou a entender por que já falavam muito sobre ele. Naquele período da F1, Senna já começava a se destacar de Toleman no Mundial de 1984, que foi vencido por Lauda.

Depois disso, Fangio e Senna estiveram juntos em vários momentos, porém, logo após o bicampeonato de Senna, em 1990, o brasileiro adotou o hábito de visitar o argentino, em seu país, quase sempre depois da última corrida da temporada, ao regressar ao Brasil.

Dos encontros marcantes entre eles, provavelmente, o mais significativo para os dois ocorreu no pódio do GP Brasil de 1993, quando o piloto brasileiro recebeu seu troféu da vitória das mãos de Fangio.

No Museu Fangio, localizado na cidade natal do piloto argentino, em Balcarce, Senna é o piloto estrangeiro de mais evidência por ter um dos andares somente com cenas, escolhidas pelo próprio Fangio, que mais marcaram o piloto argentino.

Fangio, inclusive, acreditava que o brasileiro bateria o seu recorde de títulos, que só foi quebrado 45 anos depois, em 2003, pelo alemão Michael Schumacher, com o sexto título mundial. Atualmente, o alemão é o recordista de títulos, ao lado do inglês Hamilton, com sete conquistas.

Mas, infelizmente, naquele 1o de maio de 1994, no GP em Ímola, Fangio viu pela TV uma cena que ele e quase ninguém mais podia imaginar: o acidente fatal de seu maior ídolo da F1.

Charles Marzanasco é jornalista e trabalhou nove anos como repórter na QUATRO RODAS Acervo Pessoal/Divulgação

Jornalista, Charles Marzanasco trabalhou nove anos como repórter na QUATRO RODAS, dez anos como assessor do piloto Ayrton Senna e 25 anos na Audi.

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