Ligue 180 recebe 86 mil denúncias de violência contra mulher até julho

A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 registrou 86.025 denúncias de violência contra mulheres de janeiro a 31 de julho de 2025. Este tipo de atendimento aparece em terceiro lugar entre os 594.118 registrados pelos cerca de 300 atendentes da central no período.

Os pedidos de informação lideram os atendimentos no serviço gratuito coordenado pelo Ministério das Mulheres. Ao receber a ligação, a central faz o registro e encaminha as denúncias de violência aos órgãos competentes nos estados, no Distrito Federal e nos municípios e, também orienta sobre direitos das mulheres, leis e serviços especializados da rede de atendimento.

Nesta quinta-feira (7), o Ministério das Mulheres lançou o Painel de Dados do Ligue 180, de acesso público, com informações detalhadas sobre os tipos de violência, perfil das vítimas e agressores e o contexto das denúncias.

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O lançamento da ferramenta em 7 de agosto marca os 19 anos da sanção da Lei Maria da Penha (11.340/2006) e integra a campanha Agosto Lilás. A mobilização deste ano tem o tema Não deixe chegar ao fim da linha. Ligue 180.

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Dados acessíveis

Em um café da manhã com jornalistas, em Brasília, a ministra das Mulheres, Márcia Lopes, destacou a importância de ter estatísticas baseadas em evidências para fazer o enfrentamento à violência contra mulheres. “Seja nos feminicídios ou em qualquer tipo de violência, a gente precisa entender melhor, estudar melhor, analisar e ter estratégias efetivas para mudar esse comportamento.”

Desde o segundo semestre de 2024, a plataforma interativa reúne e organiza informações sobre os atendimentos realizados pela central pelos diferentes canais de atendimento: ligação telefônica para o número 180, e-mail [[email protected]], WhatsApp, no número (61) 9610-0180 e videochamada em Língua Brasileira de Sinais (Libras) para pessoas com surdez.

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Ellen dos Santos defende que é funamental ter dados para agir no combate à violência contra as mulheres, por Marcelo Camargo/Agência Brasil

A coordenadora-Geral da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 do ministério, Ellen dos Santos Costa, indica que os dados são inéditos e servem para retratar a violência de gênero no país.

“É função do Ligue 180 preparar relatórios analíticos e uma base de dados para fortalecimento das políticas e direcionamento do orçamento de forma efetiva para a gente fomentar essas políticas mais eficazes, mais focadas e mais territorializadas, de acordo com as dinâmicas das violências que a gente vem identificando”            .

Violência em números

Os dados do Ligue 180 de janeiro a julho de 2025 revelam que a maior parte das mulheres vítimas de violências é heterossexual, com 49.674 denúncias (57,7%); e negra, com 38.068 denúncias (44,3%).

Em 40.933 casos (47,58%), o suspeito era parceiro ou ex-parceiro da mulher vítima. Ainda foram ainda registrados, no período, 4.588 casos (5,3%) de violência cometida por vizinhos, 9.883 mantinham outros tipos de relação com a vítima e em outras 7.589 (8,8%) ocorrências, o vínculo não foi declarado.

Em relação às pessoas apontadas como agressores, a maioria dos identificados nas denúncias são heterossexuais (42.320 suspeitos, o que corresponde a 49,2%) e pessoas negras (35.586 41,4%), seguidas por 27.587 denúncias (32%) com suspeitos de praticar a agressão classificados como pessoas brancas. O Ministério das Mulheres evidencia o impacto da violência de gênero agravado pela questão racial.

Sobre o tipo de violência, entre as principais relatadas no contexto de violência doméstica e familiar e relações íntimas de afeto, destacam-se 35.665 casos de violência física (41,4%); 24.021 de violência psicológica (27,9%) e 3.085 de violência sexual (3,6%).

Fora do alcance da lei Maria da Penha, a central também registrou 9.866 casos de violência psicológica em outros contextos e 4.566 denúncias de outras formas de violência.

Quando o filtro do painel é para o cenário da violência, a maioria das denúncias são de ocorrências dentro da residência da vítima, com 35.063 registros (40,7%). Outros 24.238 casos (28,2%) foram em domicílios compartilhados entre a vítima e o suspeito. Há também registro de 4.722 denúncias (5,5%) de violência cometida na casa do suspeito.

De acordo com o Painel de Dados do Ligue 180, muitas mulheres convivem com a violência por longos períodos antes de buscar ajuda. Entre as denúncias recebidas, 21,9% (18.871) são referentes a violências iniciadas há mais de um ano; em 9% das denúncias (7.715) as violências começaram há mais de cinco anos. Em 8,6% (7.442), tiveram início há mais de dez anos.

Para o Ministério das Mulheres, é preciso ampliar as políticas de prevenção, proteção e acesso rápido à rede de apoio às vítimas de violências de gênero.

“A gente tem um foco muito importante na transparência e na inteligência desses dados. Esse painel, hoje, permite que a gente repasse essa informação para a população, sociedade civil, a todos os governos estaduais, municipais, gestores públicos, quem trabalha diretamente na rede para poder entender como é ter esse retrato dessa violência no país inteiro”, diz a coordenadora-Geral do Ligue 180, Ellen dos Santos Costa.

Rede de atendimento

O Ministério das Mulheres também disponibilizou para consulta o Painel da Rede de Atendimento à Mulher com o mapa de serviços públicos disponíveis ao público, como as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams) da Polícia Civil dos estados; juizados e promotorias especiais de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, abrigos de mulheres vítimas de agressão e demais serviços.

Pacto federativo

A ministra Márcia Lopes relata que o governo federal tem trabalhado para que todas as unidades da federação assinem o Pacto Nacional de Prevenção aos Feminicídios para, entre outros objetivos, estabelecer o fluxo de encaminhamento e tratamento das denúncias de violência contra as mulheres e meninas recebidas pelos canais de atendimento do Ligue 180.

Atualmente, apenas 14 estados têm acordos de cooperação técnica firmados para prevenir todas as formas de discriminação, misoginia e violência de gênero.

A gestora federal da pasta das mulheres reforça a necessidade de governadores e prefeitos criarem órgãos públicos voltados à garantia de direitos e a políticas de proteção das mulheres.

“Temos buscado incentivar os estados a criarem as suas secretarias estaduais, quem ainda não têm. E mesmo nos municípios menores, ou seja, um setor, uma coordenação, um órgão que trate da gestão da política de mulheres. Assim, ela se posiciona nessa perspectiva de articular os outros setores. Se você não está todo dia olhando, você não tem noção do que é de fato a concretude da realidade. Se a gente não conversar com as mulheres, menos ainda”, resume a ministra.

Serviço – Ligue 180

A ligação para o Ligue 180 é gratuita e mantém o sigilo de quem busca o serviço para pedir informações ou fazer denúncias.

A central funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana para acolhimento, orientação e registro de denúncias, destinado às mulheres em situação de violência.

É possível fazer a ligação de qualquer lugar do Brasil. No caso de mulheres que estejam no exterior, o serviço pode ser acessado via chat no WhatsApp, (61) 9610-0180. O serviço realiza atendimento em quatro línguas (português, inglês, espanhol e Libras),

Em casos de emergência, a orientação do ministério é acionar a Polícia Militar local, por meio do número 190.