Com porta fechada na base, Cícero e Galdino acenam para criação de novo grupo político

Cícero, Cássio, Galdino e Veneziano

Poucos conceitos traduzem tão bem a política como aquele que diz ser ela a arte de “ocupar espaços”. As divergências e conveniências, tão típicas do cotidiano político, sempre vão modificando cenários a partir da ocupação desse ou daquele cargo, função ou projeto.

É um movimento natural, que afasta aliados e promove o reencontro de desafetos.

Quando não há espaço em um mesmo núcleo, ou quando dois ou mais de seus atores disputam a mesma aspiração, por exemplo, a colisão de interesses faz surgir novos reagrupamentos.

Experientes na política, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), e o presidente da Assembleia, Adriano Galdino (Rep), estão há tempos cientes de que foram preteridos pelos demais caciques da base do Governo João Azevêdo (PSB) para a sucessão de 2026.

A tese predominante é de uma candidatura natural a governador do vice, Lucas Ribeiro (PP).

O próprio Lucas, ontem, declarou que a sua candidatura (em caso de assumir o Governo em abril) é irreversível e sem condicionantes, fechando a porta de uma vez por todas para o desejo de Cícero e Galdino de concorrerem ao Palácio da Redenção com o apoio governista.

O reflexo disso foi acompanhado pelas lentes dos celulares de quem esteve no Teatro Severino Cabral, em Campina Grande.

Cícero e Galdino exteriorizaram um aceno que já vem sendo feito, nos bastidores, de ajuda mútua; e que pode resultar também na formação de um novo grupo – com a soma de integrantes da oposição, como o senador Veneziano Vital (MDB), e a família Cunha Lima.

O clima de instabilidade na base do Governo é tão grande que aliados de Lucena dizem ter recebido a informação que haveria uma articulação para vaiar o prefeito, caso ele fosse à Plenária do Orçamento Democrático conduzido no mesmo dia por Lucas, em Campina.

Em reação, o gestor teria mudado a rota no percurso da BR 230 e optado por não ir ao evento do Governo.

Semelhante ao que aconteceu no Campestre, em 1998, o lançamento do filme sobre o ex-governador Ronaldo Cunha Lima pode ter começado a demarcar novos terrenos na política paraibana.

Mas somente as cenas dos próximos capítulos podem confirmar esse movimento.

Fato por enquanto é que, ainda integrantes de uma base marcada pelo descompasso, Cícero e Galdino sinalizaram que estão dispostos a cruzar a linha – caso outros critérios para escolha do candidato à sucessão não sejam acrescidos à “teoria da naturalidade”.

E ninguém tem dúvidas de que os dois poderão provocar um grande abalo sísmico.