Entenda caso Hytalo Santos, influenciador denunciado por exploração de crianças e adolescentes
O influenciador paraibano Hytalo Santos, de 28 anos, está no centro de uma denúncia de suposta exploração sexual de crianças e adolescentes, após vídeos publicados em suas redes sociais mostrarem menores em situações de exposição e as autoridades ficaram em alerta para a possibilidade de exploração.
Desde então, o Ministério Público da Paraíba (MPPB) vem conduzindo investigações para apurar as condutas do influenciador e também dos pais dos menores envolvidos, que podem ser responsabilizados por omissão na proteção dos filhos.
Para ajudar a compreender todos os detalhes e os desdobramentos do caso, o Jornal da Paraíba preparou uma reportagem que reúne as informações oficiais e o andamento das apurações.
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MP investiga e pais podem ser responsabilizados
O Ministério Público da Paraíba (MPPB) investiga os pais de crianças e adolescentes que aparecem em vídeos publicados pelo influenciador Hytalo Santos nas redes sociais. De acordo com o órgão, “os genitores também estão sendo investigados, porque, caso as denúncias sejam confirmadas, estariam se omitindo na proteção dos filhos”, o que pode caracterizar responsabilidade pela exposição e pelos possíveis danos sofridos pelos menores.
O Conselho Tutelar de Cajazeiras, no Sertão da Paraíba, informou ao Jornal da Paraíba que “não consegue fazer nada” em relação aos menores de idade envolvidos no caso.
Segundo a conselheira Socorro Pires, o pai e a família paterna de Kamyla, uma das participantes dos vídeos do influenciador, se posicionaram contra a situação, mas a mãe nunca foi contrária. Ela acrescentou que as crianças contam com advogados e pessoas influentes por parte do influenciador Hytalo Santos, o que, segundo ela, dificulta a atuação do Conselho.
“Não tem como a gente fazer alguma coisa. A gente já notificou ele [Hytalo] no passado, agora não. Agora não porque ele sempre tem os advogados dele. Ele consegue, né? E os pais todos autorizam, segundo informações que a gente tem. Os pais desses adolescentes todos autorizam esses jovens a ficar na casa dele”, explicou a conselheira Socorro Pires.
Contudo, mesmo com a declaração do Conselho Tutelar de que os pais autorizam essas crianças e adolescentes a participarem dos vídeos do influenciador, o Ministério Público afirma que os pais podem sim ser responsabilizados.
Segundo o Ministério Público, caso as denúncias sejam confirmadas, os investigados poderão responder por crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A especialista em direito digital, Juliana Nóbrega, explicou ao Jornal da Paraíba que, caso os fatos sejam comprovados, os envolvidos poderão responder por crimes previstos no Código Penal, como: estupro de vulnerável, corrupção de menores, satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente e favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente.
Já no âmbito do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), também podem ser enquadrados, se comprovados, pelos crimes de: produção de pornografia infantil; oferta, troca, disponibilização, transmissão, publicação ou divulgação de pornografia infantil; posse de pornografia infantil; simulação de conteúdo sexual envolvendo menor; e aliciamento, assédio, instigação ou constrangimento de criança.
No caso dos pais ou responsáveis, se comprovada a omissão na proteção dos filhos, pode haver responsabilização por maus-tratos, se submeterem o menor a situação vexatória ou prejudicial à sua saúde física/psicológica; entrega irregular de filho a terceiro; e descumprimento de dever de proteção.
“Todos os crimes citados só poderão ser confirmados após investigação que respeite a cadeia de produção de provas e o devido processo legal. No direito brasileiro, o consentimento dos pais não afasta a ilicitude de condutas que configurem crimes contra crianças e adolescentes, especialmente em casos de exploração sexual, pornografia infantil ou exposição indevida. O que as autoridades vão apurar é se houve participação ou conivência, e isso envolve analisar o grau de compreensão desses pais sobre a gravidade da situação, considerando aspectos como escolaridade, vulnerabilidade socioeconômica e contexto cultural. Se ficar comprovado que eles autorizaram conscientemente a exposição sexualizada de seus filhos, podem sim responder criminalmente, tanto pelo Código Penal quanto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Mas é a investigação que vai determinar o nível de responsabilidade de cada envolvido”, explicou Juliana.
De acordo com Juliana Nóbrega, todos os crimes possuem previsão de pena de reclusão que variam de um ano a 15 anos, individualmente considerados. Se condenados, a Justiça responsável fará a contagem dos prazos das penas impostas e pode chegar a mais de 20 anos de reclusão. O maior tempo de reclusão é estupro de vulnerável, que pode chegar até 15 anos.
O Ministério Público da Paraíba informou que, além dos procedimentos já em andamento no órgão, foi instaurado um inquérito policial para investigar, na esfera criminal, a conduta do influenciador Hytalo Santos. O resultado da investigação será encaminhado ao MP, que avaliará se há elementos suficientes para apresentar denúncia contra o investigado.
O promotor João Arlindo Corrêa Neto, que está dando auxílio nas investigações do MPPB, informou ao Jornal da Paraíba que o processo está em fase de conclusão, e que na próxima semana deve ser concluído. O promotor ainda informou que foram ouvidas muitas pessoas, dentre crianças e adolescentes.
Juliana Nóbrega ainda explicou que quando crimes como exploração sexual infantil e pornografia envolvendo menores ocorrem nas redes sociais, o impacto é potencializado.
“Diferente de um ato cometido em ambiente físico restrito, nas redes sociais o alcance é global, instantâneo e praticamente irreversível. Isso agrava não apenas o dano psicológico e social à vítima, mas também a responsabilização penal dos envolvidos. Casos assim evidenciam a urgência de uma regulamentação mais clara e eficaz das plataformas digitais no Brasil, para que exista dever legal de prevenção, detecção e remoção rápida de conteúdos ilícitos, além de mecanismos transparentes de colaboração com autoridades”, explicou Juliana Nóbrega.
A especialista ainda reforçou que quando há conteúdo envolvendo crianças e adolescentes, especialmente com casos de exploração sexual, as plataformas devem remover o conteúdo imediatamente, sem precisar de ordem judicial.
O Ministério Público da Paraíba informou que, além dos procedimentos já em andamento no órgão, foi instaurado um inquérito policial para investigar, na esfera criminal, a conduta do influenciador Hytalo Santos. O resultado da investigação será encaminhado ao MP, que avaliará se há elementos suficientes para apresentar denúncia contra o investigado.
Conta de Hytalo Santos derrubada
A conta do influenciador paraibano Hytalo Santos saiu do ar no Instagram, na sexta-feira (8), após um vídeo do também influenciador Felca, que o acusa de exploração de menores. O Ministério Público da Paraíba (MPPB) apura, desde 2024, outras denúncias contra o paraibano também por exploração de menores. Ainda não se sabe se o fato de a conta estar fora do ar tem relação com a denúncia de Felca.
O Jornal da Paraíba não conseguiu entrar em contato com a defesa de Hytalo Santos. A reportagem também tentou contato com a Meta, proprietária do Instagram, para saber se a conta foi desativada por quebrar alguma diretriz da plataforma ou a pedido da Justiça, mas não recebeu resposta até a última atualização desta matéria.
O MPPB também foi contactado e informou que dois promotores, um da cidade de Bayeux e outro de João Pessoa, ambas na Paraíba, estão à frente das investigações. O órgão disse que nenhum dos dois solicitou a desativação do perfil da rede social.
Em nota, o Ministério Público informou que a pedido dos dois promotores um inquérito criminal foi aberto. O inquérito é anterior às falas de Felca.
Uma das contas da também influenciadora Kamyla Santos, que faz conteúdos para as redes sociais com Hytalo Santos, também está fora do ar até a última atualização desta matéria.
Repercussão do vídeo de Felca
Na quarta-feira (6), o youtuber Felca, que tem mais de 5,4 milhões de inscritos no Youtube, citou em um vídeo, que já alcançou mais de 26 milhões de visualizações, a atuação de Hytalo Santos na criação de conteúdos com menores de idade nas redes sociais.
Entre os exemplos utilizados por ele no vídeo, está o de Kamyla Santos. Ele diz que ela é usada pelo influenciador paraibano para lucrar e que a imagem dela, mesmo sendo uma menor de idade, com 17 anos, é explorada sensualmente.
O youtuber também traz vários trechos de vídeos publicados nas redes sociais de Hytalo com jovens e faz criticas sobre isso. Ele chega a falar, inclusive, sobre possíveis rendimentos obtidos pelo paraibano com o Jogo do Tigrinho.
“É, Hytalo, quanto mais novo melhor, né? Quanto mais novo mais alto o valor que o tigrinho paga para anunciar”, ressaltou.
Especificamente sobre Kamyla, Felca diz que ela se desenvolveu desde a adolescência até quase a maior idade no meio de produção de conteúdo de Hytalo, que expõe ela a produzir conteúdos inclusive com cunho sexual, como ele mostra nos cortes das publicações do paraibano.
“A Kamylinha entrou no círculo do Hytalo quando ela tinha 12 anos, ela continua com ele até os dias de hoje, com 17, ela desenvolveu toda sua pré-adolescência e adolescência nesse meio e aos poucos o Hytalo começou a perceber que quanto mais era mostrado da Kamylinha, em todos os sentidos, mais retornava em números”, disse.
Felca traz diversos cortes de vídeos de Kamyla, inclusive sem roupa, com outros menores de idade, sendo observados por adultos em cenas sensuais. Ele alega que o comportamento da jovem é condicionado pelo conteúdo de Hytalo e isso influencia outras crianças e jovens que consomem.
“Qual a problemática maior aqui, além deles serem adolescentes, não estarem com o lobo pré-frontal desenvolvido e não terem a mínima ideia do que é um relacionamento e as consequências de suas ações, a problemática maior é que dentro do público do Hytalo Santos existe adolescentes que assistem pra ver a realidade e são influenciados por ela, existem mães de filhos que assistem por qualquer motivo, mas existe também nesse público homens adultos e, vou te falar uma coisa, esses homens, não assistem pelas dinâmicas divertidas”, disse.
Uma das contas da também influenciadora Kamyla Santos, que faz conteúdos para as redes sociais com Hytalo Santos, também está fora do ar até a última atualização desta matéria.
Quem é Hytalo Santos
O influenciador Hítalo José Santos Silva, mais conhecido como ‘Hytalo Santos’, de 28 anos, é natural de Cajazeiras, no Sertão da Paraíba. Desde a sexta-feira (8), a conta dele no Instagram está fora do ar, após o youtuber e humorista Felca ter denunciado, em um vídeo, suposta exploração de menores de idade feita pelo paraibano nos conteúdos digitais.
Até o Instagram de Hytalo Santos sair do ar, ele tinha mais de 17 milhões de seguidores na plataforma e 2,4 milhões no TikTok. No YouTube, são mais de 5 milhões de seguidores.
Hytalo Santos ficou famoso na internet após publicar vídeos inicialmente no TikTok. O estilo do conteúdo dele é semelhante ao produzido por Carlinhos Maia, que também reúne várias pessoas em uma casa e compartilha a rotina delas.
O Ministério Público da Paraíba (MPPB) apura, desde 2024, denúncias por exploração de menores.
Em suas redes sociais, Hytalo Santos diz que “minha casa vive cheia, e minha família não é perfeita!”. Ele posta vídeos de dancinhas com meninas a quem ele chama de “filhas” e meninos a quem ele chama de “genros”.
Além disso, Hytalo gerencia um perfil de sorteio de prêmios com mais de 1,9 milhões de seguidores. Os prêmios variam entre celulares e automóveis. Esse perfil permanece no ar no Instagram até a última atualização dessa matéria. A última atualização do perfil, no entanto, aconteceu há 8 semanas.
Em dezembro de 2023, ele casou e a festa chamou atenção nas redes sociais. Entre outros destaques, a comemoração teve como brinde para os convidados iPhones 15 Pro Max. O casamento teve como custo total, ainda de acordo com o influenciador, em torno de R$ 4 milhões.