Dona de uma das mais importantes vozes da música brasileira, a paraibana Elba Ramalho chega aos 74 anos de idade neste domingo (17). A data é celebrada com muita alegria, potência vocal e um “espírito jovem” que, para ela, todo artista tem.
Elba Ramalho foi a principal atração da noite que marcou a abertura da 50ª edição do Festival de Inverno de Campina Grande, na última quinta-feira (14). E o Jornal da Paraíba aproveitou a presença dela no evento para entrevistá-la.
A artista paraibana celebra o novo ciclo após um período de descanso na Europa com as filhas. Ela afirmou que, assim como todo artista, “se sente jovem por que faz arte”.
Todo artista se sente jovem pq ele faz arte. A minha voz ainda é muito poderosa. Outro dia vi críticos analisando meu show no show, e fiquei até comovida porque eles aplaudiram tanto [disseram] ‘ela dança, olha a voz, olha os agudos’ (…) Então assim, a gente pode até envelhecer, mas o espírito da gente é muito jovem e a música não tem idade.
Elba usou como exemplo para fundamentar seu entendimento sobre jovialidade não ter relação com idade nomes como Luiz Gonzaga, que “tinha 80 anos e fazia a coisa acontecer”.
Por outro lado, a paraibana afirmou que pensa na possibilidade de “ir baixando a temperatura”, diminuindo a frequência dos shows para conseguir aproveitar mais momentos de lazer e descanso com a família.
Gosto tbm de pensar na possibilidade de ir baixando a temperatura, ir acalmando, até porque agora quero me divertir um pouco. Passei a minha vida toda no palco. Fiquei 15 dias na Europa com minhas filhas, cheguei e no outro dia já estava na estrada e pensei ‘isso é um absurdo, tenho 70 anos, preciso descansar’ (…) Mas eu sou muito jovem, meu espírito é muito jovem”.
Elba também falou sobre a importância de renovação musical no meio artístico brasileiro. Ela espera que “as pessoas continuem priorizando o que é bom”, independente de onde o artista é.
Nesta fase da carreira, ela celebra, inclusive, as novas roupagens dadas às suas canções, e classifica como “natural” as versões contemporâneas de sua arte.
O importante é que as pessoas cantem, [mudar] é natural. Quando cheguei no forró também cheguei mudando um pouco. Trouxe sopro, guitarras (…) Os meus shows foram a grande força do meu trabalho! Vim do teatro então tenho uma cenografia, sempre fui da superprodução por isso me mantenho até hoje. Compram meu show porque sabe que eu tenho qualidade”.
Amor por Campina Grande e pelo Nordeste
Elba Ramalho não nasceu em Campina Grande, mas durante toda a vida repetiu inúmeras vezes que a cidade lhe deu “a régua e o compasso”. Não foi diferente no show de abertura do 50º Festival de Inverno de Campina Grande.
A artista, que se apresentou na primeira edição do evento, em 1974, celebrou a história de resistência do festival idealizado pela ativista cultural Eneida Agra Maracajá.
Estou super honrada. Tenho acompanhar essa história, nem era cantora. Vim pra cá, com um violão. Que bom que está acontecendo há 50 anos”.
Elba aproveitou a ocasião para recordar bons momentos que viveu na Rainha da Borborema, quando era atriz e participava de espetáculos, peças, declamava poemas, tocava bateria, cantava. Segundo ela, “movimentava a história” de Campina no Teatro Municipal Severino Cabral e era chamada “Bibi Ferreira da cidade”.
Campina Grande tem um legado para mim. Por tudo isso, pela universidade, eu promovia festivais, como o Festival de Violeiros, trouxemos João Cabral de Melo Neto para cá, trouxemos Jorge Amado – fui buscar ele na rodoviária, levei ele para a feira… Campina sempre teve essa singularidade, essa efervescência cultural na sua veia. É uma cidade muito mais preocupada com a cultura e arte do que outras da Paraíba”.
Além de dar voz à queima de fogos que marca a chegada do São João no Maior São João do Mundo, em Campina Grande, fortalecendo a simbologia de pertencimento das festas juninas nordestinas, Elba Ramalho também conseguiu fazer o movimento inverso: fortalecer a cultura nordestina fora da região.
Sobre isso, a paraibana relembrou que quando chegou no Rio de Janeiro, onde mora há muitos anos, artistas como Jackson do Pandeiro, Luís Gonzaga e Marinês “já eram grandes”, mas não tinham conseguido chegar a lugares que ela e outros que vieram depois conseguiram mesmo precisando lidar com a xenofobia.
Fiz [a inauguração] debaixo de crítica, porque sofri também bastante perseguição por ser nordestina. Mas sou guerreira mesmo, me impus. Escreviam, falavam mal no outro dia eu estava de novo fazendo, e a cada show estava me superando. Então aprendi fazendo”.
Elba lembrou que, em uma das ocasiões, quando foi convidada para inaugurar uma das maiores casas de eventos do Rio, ouviu muitas pessoas se questionarem “como aquela nordestina vai fazer a inauguração de uma casa nova no Rio?”. Mesmo assim, ela enfrentou o desafio e, assim como em outras inúmeras vezes, ergueu a bandeira da arte em nome da cultura nordestina.
Fiz [a inauguração] debaixo de crítica, porque sofri também bastante perseguição por ser nordestina. Mas sou guerreira mesmo, me impus. Escreviam, falavam mal no outro dia eu estava de novo fazendo, e a cada show estava me superando. Então aprendi fazendo”.