MPPB investiga se policiais suspeitos de chacina no Conde esconderam provas e cometeram fraudes

MP investiga supostas fraudes e ocultação de provas por policiais em ação que matou cinco jovens. Divulgação/Polícia Militar da Paraíba

O Ministério Público da Paraíba investiga se seis policiais militares cometeram fraude processual e ocultação de provas durante a ação que terminou com a morte de cinco jovens na Ponte dos Arcos, em Conde. Cinco dos policiais foram presos temporariamente na manhã desta segunda-feira (19).

Segundo o pedido de prisão temporária, há indícios de homicídio baseados em depoimentos de testemunhas e laudos periciais. O documento aponta que, no momento do crime, os jovens não teriam oferecido qualquer possibilidade de reação.

A defesa dos policiais, representada pelo advogado Luiz Eduardo, afirma que os policiais realizavam um “checkpoint” e reagiram a tiros disparados pelos ocupantes dos veículos. Os jovens feridos teriam sido levados a uma unidade hospitalar, onde acabaram morrendo.

O comandante-geral da Polícia Militar da Paraíba, coronel Sérgio Fonseca, afirmou acreditar na versão dos policiais, mas disse que, caso a investigação comprove outra versão, os envolvidos serão responsabilizados.

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O Ministério Público aponta que os policiais teriam removido os corpos das vítimas do local do crime, todos com ferimentos letais na cabeça, e utilizado fuzis de alto poder de destruição. Os veículos das vítimas também foram retirados da cena e levados para a Central de Polícia, em João Pessoa, antes que a Polícia Civil fosse acionada para realizar a perícia técnica.

Durante a investigação, uma testemunha relatou que os policiais usavam máscaras e recolheram cápsulas no local do crime. Outro depoimento registrou que um testemunha ocular, que ainda não foi identificada, descreveu que dois jovens estavam fora do carro com as mãos na cabeça, um dentro do veículo e dois no chão, enquanto policiais apoiavam os pés sobre seus pescoços.

Um laudo pericial apontou que os carros em que os jovens estavam foram atingidos por mais de 90 tiros: 74 em um veículo e 18 no outro, todos disparados de fora para dentro. Embora três armas tenham sido supostamente apreendidas com os jovens, apenas duas estavam aptas a disparar, com seis cartuchos já deflagrados.

A perícia ainda ressalta que, sem análise completa no local, não seria possível afirmar com certeza se houve disparos de dentro para fora dos veículos.

Cinco policiais militares são presos

As prisões dos cinco policiais presos suspeitos de envolvimento na morte de cinco pessoas, no Conde, Litoral Sul da Paraíba, foram mantidas após audiência de custódia, nesta segunda-feira (18). A informação foi confirmada pelo Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB) à TV Cabo Branco.

De acordo com o TJPB, os cinco policiais vão ser transferidos para a carceragem do 1º Batalhão da Polícia Militar, em João Pessoa.

A operação reúne 72 agentes, do Ministério Público, Polícia Civil e Polícia Militar. Foram expedidos seis mandados de prisão temporária, mas um dos alvos está fora do país, em viagem. Também foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão nas residências dos alvos.

Os policiais militares investigados são: Tenente Álex William de Lira Oliveira; Sargento Marcos Alberto de Sá Monteiro; Sargento Wellyson Luiz de Paula; Sargento Kobosque Imperiano Pontes; Cabo Edvaldo Monteval Alves Marques; Soldado Mikhaelson Shankley FerreiraMaciel.

O advogado de defesa dos policiais, Luiz Eduardo, afirma que os jovens atiraram contra os agentes, que reagiram disparando e ferindo as vítimas. Ele também afirma que o policial militar que está nos Estados Unidos, Tenente William, vai se apresentar quando retornar ao Brasil e que os policiais presos vão fornecer as informações necessárias.

Entenda o caso

O caso que resultou na operação desta segunda-feira (18), aconteceu na noite do dia 15 de fevereiro de 2025. Segundo a Polícia Militar, os cinco jovens, com idades entre 17 e 26 anos, estavam se preparando para fazer um ataque no Conde, para vingar um feminicídio cometido horas antes.

Na mesma data, uma mulher havia sido morta por ter encorajado uma amiga, vítima de violência, a se separar do marido. O homem, com raiva, matou a mulher como vingança.

Então, de acordo com a PM, o filho da vítima reuniu amigos para vingar o assassinato. Eles estavam em dois veículos e foram interceptados por viaturas da Polícia Militar. Ao passar pela Ponte do Arco, o carro foi atingido por vários tiros, o que resultou nas mortes de todos os ocupantes.

Os policiais militares trabalham no 5º Batalhão da Polícia Militar de João Pessoa e atuavam na Zona Sul da capital. Segundo informações da TV Cabo Branco, um dos policiais prestava serviços informais ao influenciador Hytalo Santos, preso na última sexta-feira (15), em São Paulo, suspeito de tráfico humano e exploração sexual infantil. Apesar disso, a operação não tem relação com a investigação contra o influenciador. Os demais policiais estão sendo investigados para verificar se também há também essa relação.

Os mortos foram identificados como:

  • Fábio Pereira da Silva Filho, de 26 anos;
  • Emerson Almeida de Oliveira, de 25 anos;
  • Alexandre Bernardo de Brito, de 17 anos;
  • Cristiano Lucas, de 17 anos;
  • Gabriel Cassiano de Sousa, de 17 anos (filho de Ana Gabriela, vítima do feminicídio).

Segundo o laudo da perícia, foram identificados 74 disparos em um dos veículos e 18 no outro. Todos os tiros partiram de fora para dentro dos carros. Os policiais envolvidos na ação alegaram que teria ocorrido troca de tiros.