o que a mente e o corpo querem comunicar?
Assim como roer as unhas, fumar de forma demasiada e comer compulsivamente, são comportamentos orais regressivos, pelo ponto de vista psicológico, chupar chupeta, a nova onda do momento entre os adultos, é também mais um dessas ações típicas disfuncionais que demonstram uma espécie de mecanismo de defesa.
A pergunta principal, nos últimos dias após a repercussão nas redes, é se isso é considerado normal ou seria mais uma “Trend”, modinha das mídias ou distração. Vamos entender melhor sobre o assunto.
Quando criança, é natural lançar mão de algumas ferramentas ou comportamentos infantis para saber lidar com a ansiedade, o medo e o estresse. Isso porque a criança ainda não possui todos os elementos necessários para conseguir expressar seus sentimentos. Neste sentido, a chupeta, um brinquedo de estimação, uma “naninha” são os recursos disponíveis para trazer um “Conforto psicológico”, que auxilia no alívio das sensações inexplicáveis, da insônia e da incompreensão do mundo que se apresenta.
Hoje, com a aceleração da vida cotidiana, do excesso de cobranças, das pressões diárias, usar a chupeta como recurso de acalmar a mente, parece ser uma tendência da vida adulta, que veio para se somar a massagens relaxantes, chás calmantes, meditação ou qualquer outro instrumento de alívio ao estresse. Essa ressignificação de uso da chupeta, pode ser caracterizada como sendo uma “fuga da realidade”. Essa realidade desgastante que cobra do adulto respostas imediatas, alta performance, capacidade de controlar tudo, otimização e rapidez nas ações e nos pensamentos, perfeição em tudo e, por fim, o conforto em meio ao caos.
A nova geração associa os efeitos os benefícios da chupeta a melhoria na qualidade do sono, auxílio na abstinência de álcool ou cigarros, alívio da ansiedade generalizada, diminuição dos efeitos traumatizantes do trânsito caótico das grandes metrópoles e até companhia em forma de conforto emocional. Porém, não existe evidência científica de que a utilização da chupeta na vida adulta seja a solução de todos esses problemas.
Ela pode, certamente, reduzir os impactos negativos do estresse e ser encarada como uma solução simples e eficaz para o dia-a-dia. No entanto, a tendência nada mais é do que, uma tentativa de volta a um período da vida do indivíduo, em que ele se sentia, muitas vezes, seguro, protegido e acolhido. Isso porque a fase da infância é cercada pela inocência, tranquilidade, ausência de responsabilidades e intensas cobranças.
Ou seja, a urgência em fugir da realidade e tentar reviver sensações da infância, parece ser o motor da engrenagem terapêutica no uso adulto da chupeta.
Enfim, a moda contemporânea aqui descrita, começou na China e já se espalhou por todo o mundo. Como um mecanismo de infantilização para anestesiar da realidade e anular os efeitos negativos do estresse e da ansiedade. Esse tipo de comportamento gera o desejo de alívio imediato, como um conforto psicológico, auto calmante, auto acolhimento.
Porém, um tipo de cultura alternativa que é mais uma armadilha para mascarar o medo do futuro, o medo do que pode vir das incertezas do dia-a-dia e da fragilidade emocional que muitos vivem. Um tipo de “placebo” que não cura a raiz dos problemas, apenas faz um papel coadjuvante de amenizar as sensações desagradáveis. O sinal de alerta está em entender que, se o uso da chupeta for intenso, incontrolável e compulsivo, é fundamental buscar uma terapia para compreender qual vazio está sendo preenchido pela chupeta.
*Andréa Ladislau é doutora em psicanálise contemporânea, neuropsicóloga., graduada em Letras – Português/ Inglês, e pós-graduada em psicopedagogia e inclusão digital, administração de empresas e administração hospitalar.