O cigarro eletrônico, a nicotina e as doenças cardiovasculares
Difícil encontrar uma substância mais famosa do que a nicotina.
Muito natural, considerando que mesmo nos tempos atuais de muita conscientização em relação ao imenso potencial do tabagismo em produzir muitas doenças e mortes, ela e suas companheiras nocivas seguem intoxicando 1 bilhão e duzentos milhões de dependentes ao redor do mundo.
Informe-se que a nicotina é uma droga ansiolítica com uma grande capacidade de desenvolver dependência, e toda sua fama foi adquirida oferecendo um prazer fugaz experimentado por todo tabagista.
Acrescente-se, no entanto, que, por trás desse bem-estar, ela também produz imenso mal-estar no sistema cardiovascular de todos aqueles que não conseguem se livrar de suas garras atrativas:
– Aumenta a frequência cardíaca e produz vasoconstricção, dificultando o fluxo sanguíneo
– Favorece o acúmulo de placas (ateromatose) tornando as artérias mais rígidas
– Estimula a formação de trombos no interior dos vasos sanguíneos
– Danifica o endotélio vascular, favorecendo processo inflamatório e a formação de coágulos
Há de se convir, portanto, que todo cidadão que mantêm o hábito de inalar diariamente a nicotina vai estar exposto a desenvolver hipertensão arterial, cardiopatia, trombose, acidente vascular cerebral (AVC), aneurisma, infarto do miocárdio…
Importante informar que estamos falando do cigarro convencional, cujo teor de nicotina não costuma ultrapassar 1mg/ml.
Ocorre que no cigarro eletrônico (CE) a pegada é outra! Ali naquele aerossol aromatizado, até a terceira geração dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) a concentração de nicotina era até bem-comportada: 4 mg/ml
Com a chegada da quarta geração, essa concentração foi lá pra estratosfera: 50mg por cada ml inalado. Com um detalhe cruel: a mistura com o ácido benzoico dando origem ao sal de nicotina, que produz uma absorção mais rápida, elevando ainda mais o já imenso potencial viciante dessa droga psicoativa.
Essa realidade acima descrita leva a uma indagação preocupante: se 1mg de nicotina do cigarro convencional produz todas as patologias acima referidas, o que vai acontecer com o sistema cardiovascular desses jovens que andam inalando (muitos deles, compulsivamente) o aerossol aromatizado desses dispositivos com 50mg de nicotina?
A racionalidade manda avisar que, no curto prazo, nosso sistema de saúde vai começar a conviver com muitos jovens desenvolvendo as doenças características do adulto: hipertensão arterial, cardiopatia, trombose, acidente vascular cerebral (AVC), aneurisma, infarto do miocárdio…
INEVITÁVEL!
Nesse 29 de agosto, DIA NACIONAL DE COMBATE AO FUMO, fica registrado um apelo aos pais de jovens que andam curtindo o aroma e o sabor viciante do CE para que eles participem ativamente no trabalho educativo de conscientização dessa garotada que vive a curtir o dia de hoje, sem a mais remota preocupação com o amanhã.
* Sebastião de Oliveira Costa é médico com espesialidade em pneumologia e alergologia. Ele é presidente do Comitê Antitabagista da Associação Médica da Paraíba e membro da Comissão de Tabagismo da Associação Médica.