Hugo Motta e o abismo da decepção
O deputado federal Hugo Motta (Republicanos), que no início do ano foi festejado ao assumir a presidência da Câmara dos Deputados, está beirando o abismo da decepção. Uma pena. Necessita sair desse lugar urgentemente.
Um flerte perigoso para um político desenhado como jovem articulado, inteligente e promissor. Características que já foram quase unânimes, mas perdem força, a cada mês no comando da Casa. Por isso, precisa ter cuidado.
O Hugo equilibrado, com boa retórica, boa circulação, diplomático, de uma nova geração na idade e atitudes, ganha outras feições. Feições da política que queremos deixar para trás.
Em Brasília, abriu espaço para uma impressão muito ruim: a de que não tem liderança. Muito porque não age com firmeza em questões fundamentais. Errou, por exemplo, quando deixou bolsonaristas tomarem conta da sua cadeira.
Agora, todo mundo acha que pode gritar. Virou baderna. Parece ter controle, apenas, em projetos de autoproteção do parlamento, como a Pec da Blindagem, e das emendas parlamentares.
Sabe que o “projeto de Anistia” total e integral é uma excrescência da democracia. Democracia que ele mesmo defendeu quando assumiu a Câmara. Agora, não assume nada.
Hugo não dá declarações claras em temas polêmicos. Fala bonito, mas só escorrega. É sempre ambíguo.
Alcolumbre, por sua vez, presidente do Senado, já disse o que quer: diminuição da pena para quem participou do 8 de janeiro. Ninguém mais questiona sua firmeza.
A desculpa de jogar para os líderes decidirem não cola mais. O jogo duplo o torna cambaleante.
Denúncias
Ao longo dos últimos meses, já foi alvo de várias denúncias. Escrutínio natural em quem precisa ser exemplo. As denúncias são de manter funcionários ‘fantasmas’, pagar empregado particular com dinheiro da Câmara, comprar imóveis com documentos fraudados, indicar aliado condenado para cargo público.
Mas não há explicações sobre os casos, pronunciamentos claros sobre as supostas denúncias, esclarecimentos que diminuam as dúvidas sobre as supostas ilegalidadades e as incoerências. O silêncio predomina e é artificialmente engolido pelos sucessivos fatos ‘quentes’ de Brasília.
Conversas ao pé do ouvido e nos cafezinhos, no entanto, ‘queimam’ a sua reputação entre os pares.
Na Paraíba, em 2026
Na Paraíba, ainda mantém-se no palco dos que podem definir a eleição em 2026. Poderia ser um nome forte para o governo, para o Senado, mas decidiu repertir a velha receita.
Mantém-se onde está, mas busca ampliar poder, premiando o pai, Nabor Wanderley, prefeito de Patos, com uma vaga no Senado.
Vaidade e familismo colonial que não vão estimular a revolução política necessária para o futuro desse estado pobre, que vive capengando nas taxas de IDH, desigualdade social, analfabetismo, saneamento básico.
Hugo, como na velha política, olha para si. Ou melhor, para própria casa. O velho pensamento, num corpo novo.
Motta começou o ano forte, vivo, orgulhando, sendo levado pela esperança de que puxaria uma mudança real no cenário político da Paraíba.
No histórico, foi o mais jovem deputado federal do país. Assumiu uma cadeira poderosa, com menos de 40 anos.
Mas age do mesmo jeito que os pais, avós, bisavós dos políticos brasileiros e paraibanos.
Vai precisar de boa estratégia para mudar a fama de jovem líder fragilizado em Brasília, tutelado por Arthur Lira.
Vai precisar se esforçar para tirar a pecha de que é mais do mesmo.