Cellos de Câmara abre programação de fim de ano no Hotel Globo, que ganhou estátua em homenagem a Jackson do Pandeiro

O projeto ‘Sol Maior’, da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), apresentou, na tarde desta sexta-feira (5), grandes obras da música erudita com o conjunto Cellos de Câmara, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O evento, que faz parte da programação de fim de ano da Prefeitura, aconteceu no Hotel Globo, no Centro Histórico, e contou com uma plateia atenta e entusiasmada. Na ocasião, ainda foi feita uma homenagem ao artista paraibano Jackson do Pandeiro, que passou a ter sua estátua instalada no espaço.

Em meio aos jardins ensolarados do Hotel, a Orquestra da UFPB apresentou um repertório eclético, trazendo nomes como Bach, Arvo Part, Villa Lobos, entre outros. O grupo de violoncelistas trouxe 11 membros, sendo quatro mulheres. 

De acordo com Marcos Alves, diretor executivo da Funjope, o Sol Maior, ao longo de seus quatro anos de projeto, vem atuando efetivamente na formação de um público apreciador da música instrumental. “Os jardins do Hotel Globo auxiliam na adaptação daqueles que estão entrando em contato pela primeira vez com o gênero musical. O Globo tem muita visitação e o pessoense vem redescobrindo a beleza de sua cidade”, observou.

Gabriela Estrela, moradora do município de Poço de José de Moura, diz que quando vem a João Pessoa faz questão de visitar o Hotel Globo nas tardes das sextas-feiras para ouvir música instrumental.  Para ela, o projeto Sol Maior é de extrema importância, no sentido de alcançar os jovens, que “vivem colados em telas”. “A gente sai um pouco da tela e passa a contemplar o agora. Passa a dar valor ao presente, ao hoje. Pra mim a música instrumental me traz leveza, me conecta comigo mesma”, afirma.

Já a professora Solange Rodrigues, natural de São Paulo, mas mora na capital paraibana há seis meses, diz ter se encantado com a diversidade cultural da cidade. Ela afirma ser uma amante da música instrumental e acredita que muitas pessoas são avessas ao gênero por não terem acesso a ele nas mídias populares.

Apresentação – A apresentação do Cellos de Câmara teve a duração de 50 minutos, seguindo até as 17h30 com a execução da obra Oblivion, de Astor Piazzola. A orquestra é formada por alunos de violoncelo dos cursos de graduação, mestrado, doutorado e extensão da UFPB. Criada há 25 anos, no Departamento de Música, busca popularizar o instrumento, bem como atuar na formação de novas plateias.  

Além do projeto Sol Maior, com a apresentação do conjunto de violoncelos, o Hotel Globo recebe outros dois eventos, dentro das comemorações de fim de ano: o Quinteto Brassil (dia 12) e o Festival Internacional de Arte Naiff (de 19 de dezembro a 30 de janeiro).

Homenagem a Jackson – E também nesta sexta-feira, a Funjope instalou, no Hotel Globo, a estátua do artista paraibano Jackson do Pandeiro. A escultura foi entregue pelo diretor executivo da Fundação, Marcus Alves, e é uma forma de valorizar a memória e eternizar a trajetória do cantor, compositor e multi-instrumentista no equipamento que é um marco histórico e turístico da cidade.

Marcus Alves explicou que o monumento, que tinha sido depredado, foi restaurado por Jurandir Maciel, o próprio escultor da obra. Ele disse que, além desta, outras obras de escultores renomados estão sendo restauradas. “Esse trabalho faz parte de um projeto da Funjope, orientado pelo prefeito Cícero Lucena. A intenção é promover o processo de restauração no Centro Histórico, que é um espaço de memória e cultura”, ressaltou.

História do artista – Nascido em 31 de agosto de 1919, no município de Alagoa Grande, Jackson do Pandeiro – cujo nome de batismo era José Gomes Filho – também ficou conhecido como O Rei do Ritmo. Filho de Flora Maria da Conceição e José Gomes, Jackson teve uma infância pobre e nunca frequentou uma escola.

Tomou gosto pela música através da mãe e seus primeiros trabalhos começaram depois que ele se mudou para Campina Grande, nos anos 30, quando se juntou ao tocador de fole Geraldo Corrêa, ao banjolista Epitácio Cassiano dos Santos – o Paizinho – e ao violeiro e pandeirista Vicente Pereira da Silva, que ele já conhecia de Alagoa Grande.

Certa vez, foi convidado para substituir Caiçara, que era animador do pastoril de Zé Pinheiro, bairro de Campina Grande. A apresentação foi um sucesso. Foi ali que ele recebeu o apelido de Palhaço Parafuso, por conta do seu jeito de dançar. Nessa mesma época, formou a dupla Café com Leite com o também pandeirista Zé Lacerda.

A vida de músico seguiu com Jackson do Pandeiro tocando em boates e cabarés. Logo foi chamado pela Rádio Tabajara para atuar na orquestra da emissora. Em 1948, o maestro Nozinho, contratado para a Rádio Jornal do Commercio, de Recife (PE), levou alguns membros da orquestra Tabajara, entre eles, Jackson do Pandeiro, que passou a morar na capital pernambucana.

Ele gravou seu primeiro disco, ‘Forró em Limoeiro, aos 35 anos, em 1953. No ano seguinte, se mudou para o Rio de Janeiro, lançando, neste mesmo ano, quatro discos e um LP. Jackson do Pandeiro chegou a ter um programa dominical na TV Tupi chamado Jackson do Pandeiro na Tupi.

A carreira seguiu bem sucedida até que, a partir do final dos anos 1950, com a chegada da bossa nova e, depois, da Jovem Guarda, Jackson do Pandeiro foi perdendo destaque, apesar de permanecer muito respeitado e reconhecido pelos cantores mais modernos.

Jackson morreu aos 62 anos, em 1982, em Brasília, em decorrência de complicações de embolia pulmonar e cerebral. Foi enterrado no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro. Seus restos mortais se encontram hoje em Alagoa Grande, sua terra natal, em um memorial preparado em sua homenagem.