Guarda Civil Metropolitana e Secretaria de Educação unem forças pela cultura de paz nas escolas
Em meio as turbulências intensas e transformadoras ocorridas na adolescência, professores e estudantes enfrentam diversos desafios que impactam no aprendizado e no ambiente escolar. Dentro deste contexto, o projeto de ‘Mediação Escolar e Desenvolvimento de uma Cultura de Paz’ da Prefeitura de João Pessoa, implantado na Rede Municipal de Ensino, já beneficiou mais de três mil pessoas da comunidade escolar, incluindo estudantes, professores, coordenadores, diretores e familiares dos alunos.
O projeto é de iniciativa da Prefeitura, por meio da Secretaria de Segurança Urbana e Cidadania de João Pessoa (Semusb), através da Guarda Civil Metropolitana, em parceria com a Secretaria de Educação e Cultura (Sedec). O projeto foi implantado no segundo semestre de 2023 e está ativo em sete unidades escolares da Capital, sendo a última a Escola Anayde Beiriz, no Bairro das Indústrias.
“É importante destacar que o projeto já se encontra em regiões diversas da cidade. Já chegou ao bairros Varadouro, Bessa, Novais, Colinas do Sul, Grotão e Bairro das Indústrias, por meio das escolas municipais contempladas. Acreditamos que os alunos podem levar a cultura de paz à escola e para os ambientes onde vivem, atuando como multiplicadores”, destacou a coordenadora do projeto Mediadores Mirins, Wânia Di Lorenzo.
A participação dos jovens para se transformar em mediador mirim é voluntária, bastando ter entre 10 e 14 anos e contar com a autorização dos pais. Os alunos selecionados, através de edital, participam do curso de ‘Formação de Mediadores Mirins’, que engloba temas como ‘Circuito de Paz’ e ‘Justiça Restaurativa’, além de assuntos voltados para o desenvolvimento da ‘Comunicação Não Violenta’.
Atualmente, três escolas estão inseridas na formação do II Curso de Formação de Mediadores Mirins, ministrado pela equipe da Semusb. Neste semestre, o curso atendeu alunos das Escolas Municipais Damásio Barbosa da Franca (Trincheiras); Deputado Fernando Paulo Carrilho Milanez (Gramame) e Arnaldo de Barros (Bairro dos Novais).
Wânia Di Lorenzo garante que a iniciativa se estabelece como um canal de comunicação eficiente, atento as relações interpessoais dentro do ambiente escolar. “É o momento de levantar estratégias que oportunizam o desenvolvimento de novos valores direcionados para a paz social, para construção de laços de cidadania e de coletividade, além da quebra de ciclos de violência na escola e no meio familiar”, ressaltou.
Para ela, a segurança pública está ligada diretamente com a educação. “Com o projeto podemos atuar preventivamente. Quando se começa a trabalhar desde pequeno, temos a oportunidade de mudar a cultura. As atividades interativas são realizadas através de dinâmicas, palestras, cine debate de maneira lúdica abordando conhecimentos técnicos, científicos e os problemas relatados. As discussões são realizadas em círculos, conversas olho no olho, valorizando os temas levantados pelos estudantes, suas dificuldades, medos, anseios, valorizando o que há de positivo”, explicou.
A coordenadora lembrou ainda que o projeto alcança alunos, gestores e familiares e ou responsáveis. “Apesar de o foco ser as crianças, a escolha do público-alvo nas atividades do dia a dia é feita junto com base no diagnóstico e escolha de cada escola individualmente”. Na sua avaliação, a proposta de Mediadores Mirins possibilita chegar mais perto da percepção dos alunos sobre os conflitos escolares.
“O olhar de igualdade é sempre pregado, por isso trabalhamos com ênfase no combate ao racismo, à discriminação, o bullyng, à violência etária e de gênero, drogas, além de abordar questões de saúde mental da criança, entre outras. Nas duas turmas também tivemos alunos que são pessoas com deficiência e com outros sofrimentos emocionais”, relatou Wânia.
Humberto Nóbrega, diretor da Escola Arnaldo de Barros Moreira, no Bairro do Novais, fala sobre a recente implantação do projeto em sua unidade. “A mediação de conflitos é uma prática constante na nossa escola, mas o projeto de Mediadores Mirins da Guarda Civil veio para fortalecer esse processo”, ressaltou.
“Melhorou muito em vários aspectos já no decorrer do curso de formação. Desde o ano passado que temos trabalhado com a cultura de paz, com oficinas e vivências, contando com a participação de vários profissionais porque já observávamos que tínhamos que ter cuidado com a condução de conflitos na escola. Durante os conflitos conversávamos, fazíamos as primeiras mediações. Esse ano já está em outros passos, os meninos já estão partindo para a resolução do conflito entre eles mesmos”, disse.
Para Humberto, é importante o aprendizado porque os jovens que participam do projeto passam a ser multiplicadores. “No curso eles tiveram várias vivências em que aprenderam diversos tipos de mediação, técnicas, daí eles trazem essas experiências para a escola. Esse processo é transformador, principalmente para os próprios alunos. Eles começam a fazer um processo de sensibilização interior, passam a vivenciar esse processo”, frisou.
A professora de Protagonismo e História, Martha Ferreira, acredita que as mudanças comportamentais dos alunos participantes do curso de formação são visíveis. Na sua avaliação, os mediadores se tornam referência na escola, além de terem fortalecido a autoestima. “É muito bom ver que temos alunos focados, que estão se inspirando para seus projetos de vida, vendo novos caminhos. Antes, a gente perguntava qual seu projeto de vida? Respondiam que nunca tinham pensado nisso. Hoje eles já percebem que podem sonhar e realizar”, destacou.
Alunos elogiam iniciativa – O adolescente Miguel Fernandes, 14 anos, aluno do 9º ano da Escola Arnaldo de Barros Moreira, no Bairro do Novais, disse que se interessou desde o início em participar do projeto. “Eu mesmo quis participar para ajudar a mediar brigas, ajudar a resolver conflitos, sem ser na base da violência, nem de xingamentos”, ressaltou.
Sua colega de escola, Luciana Vitória, de 13 anos, também participou do curso. “Eu percebi que aqui na escola a gente tem tido muitos conflitos, muitos na base da violência física e também da violência verbal. Então, quando surgiu essa oportunidade, pensei: por que não fazer esse curso de mediador mirim e trazer um pouco dessa cultura de paz aqui para a escola?. Fazer a minha parte para melhorar essa situação”, declarou.
Ester Germano, de 11 anos, também participou da formação. Ela está cursando o 7º ano na Escola Municipal Deputado Fernando Milanez, em Gramame. A estudante está empolgada com os conteúdos que vem aprendendo, como respeito a vida e como lidar com a rejeição e a violência, tanto que foi escolhida para ler em voz alta o juramento da turma, tradição que marca o momento em que os formandos promovem seu compromisso como Mediadores Mirins durante solenidade de colação de grau.
“O curso de Mediadores Mirins foi algo bem importante para mim, me ajudou muito na parte da convivência. E o que eu mais gostei desse curso foi exatamente isso, que eu aprendi mais a lidar com as situações do cotidiano, que geralmente eram mais difíceis, por causa que eu não sabia muito bem como lidar. Então, esse curso me ajudou muito nessa parte. Gostei também da maneira como abordaram assuntos como bullying, violência na escola e no geral na vida e como lidar com tudo isso”, destacou.
Sua mãe, Lucidalva Germano, fala que a filha sempre foi estudiosa e uma boa menina e que o curso vem ajudando na construção de valores essenciais a convivência no lar, na escola e na vida. “Esther está muito empolgada com tudo que tem aprendido no curso. Em casa, as atitudes melhoraram, percebo que ela está mais obediente e ouvindo melhor quando temos nossas conversas”, relata.
História – O projeto piloto foi implementado no segundo semestre de 2023, inicialmente nas escolas Frei Albino e Moema Tinoco. No ano de 2024, incluiu mais quatro escolas: Damásio Franca, Fernando Paulo Carrilho Milanez, Ana Nery e Arnaldo de Barros e, no primeiro semestre de 2005, incluiu a Escola Anayde Beiriz, no Bairro das Indústrias.
Os membros da equipe do projeto, responsáveis pela formação dos mediadores mirins, compõem o quadro da Guarda Civil Metropolitana. A maior parte fez a formação em Mediação de Conflitos, além do Curso de Formação em Conciliação e Mediação Judicial pelo Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB), através da Esma. “A equipe participa de reuniões de planejamento e capacitação continuadas para atualização e continuar trabalhando em sintonia com a nossa própria missão”, frisou Wânia Di Lorenzo.