Em Habeas Pinho, filha faz declaração de amor ao pai

Foto/Divulgação.

Ronaldo Cunha Lima viveu entre o direito, a política e a poesia. Hoje, e já há muito tempo, a família e os amigos se referem a ele como o Poeta.

Minha mãe foi professora do Colégio das Damas, na Campina Grande dos anos 1950, e eu cresci ouvindo histórias da juventude de Ronaldo Cunha Lima.

Em 1966, em frente à Catedral de João Pessoa, num comício da vitoriosa campanha de Ruy Carneiro ao Senado, Ronaldo Cunha Lima empolgou a multidão fazendo discurso em versos, e minha mãe me disse: “Ele ainda vai ser governador da Paraíba”.

Essa frase premonitória da minha mãe é o que está no desfecho de Habeas Pinho. A previsão de que um dia Ronaldo Cunha Lima seria eleito governador.

O filme termina usando um formato que aparece em muitos filmes: concluída a narrativa, exibidos os créditos finais, há uma breve cena, um pequeno complemento.

Habeas Pinho é um curta-metragem de 24 minutos. Não é sobre o político. É sobre a fusão do advogado com o poeta quando ele escreve uma petição em versos.

No lugar de um habeas corpus, um habeas pinho para soltar o violão de um poeta popular de Campina Grande, cujo instrumento fora apreendido pela polícia.

Quem conhece a história de Ronaldo Cunha Lima, conhece a história do habeas pinho. O juiz não só deferiu o pedido, como fez questão de fazê-lo em versos.

Habeas Pinho é a materialização de um projeto de Gal Cunha Lima, filha de Ronaldo. É uma sensível e delicada declaração de amor de uma filha ao pai.

Também é uma declaração de amor a uma Campina Grande que não existe mais. Campina Grande, com sua vida boêmia, foi musa inspiradora de Ronaldo.

Mayana Neiva, nascida em Campina Grande, abre e fecha o filme como a cantora que encanta o poeta popular durante um programa de auditório da Rádio Borborema.

Talentosa e bela, Mayana Neiva é atriz e cantora, e, caracterizada como uma autêntica cantora de rádio dos anos 1950, ela nos brinda com Lua Branca.

Lua Branca é um clássico da música popular brasileira. Chiquinha Gonzaga compôs a música no começo do século XX, e sua melodia atravessou o tempo em várias vozes.

Juzé, que a gente viu brilhar ao lado de Lukete na novela Mar do Sertão, é o poeta que tem o violão apreendido pela polícia quando fazia uma serenata para a cantora.

Lucas Veloso é Ronaldo Cunha Lima, que entra em cena no começo do filme já guiado pela poesia de Augusto dos Anjos, cujos versos guardava na memória.

O Ronaldo Cunha Lima interpretado na tela por Lucas Veloso, sem precisar recorrer a imitações, é muito fiel ao Ronaldo Cunha Lima da vida real.

Escrito e dirigido por Aluísio Guimarães e Nathan Cirino, Habeas Pinho fica pra gente como um filme de Gal Cunha Lima. Habeas Pinho não existiria sem ela.

Habeas Pinho é um curta-metragem, tem apenas 24 minutos, mas é um retrato feliz da figura de Ronaldo Cunha Lima porque, num só episódio, sintetiza o que ele era.

O filme é bem sucedido na reconstituição de época, nos figurinos, nos objetos de cena, na caracterização dos personagens. Foi realizado com amor e zelo por Gal e equipe.

Habeas Pinho teve sessões inaugurais em Campina Grande e João Pessoa, em salas lotadas. Mas é importante que seja visto por outras plateias.