Audiências falsas podem ter sido usadas por juízes da Paraíba para inflar produtividade

Foto: divulgação/TJPB

Um documento elaborado por juízes que concorrem ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB), ao qual o Conversa Política teve acesso, aponta possíveis inconsistências nas estatísticas de uma das Varas Cíveis da Capital. As irregularidades envolves registros de pelo menos 70 audiências realizadas entre 2024 e 2025.

O relatório sugere a existência de um padrão sistemático capaz de inflar artificialmente os números de produtividade atribuídos ao magistrado titular da unidade, que é um dos candidatos à vaga por merecimento ao cargo de desembargador do TJPB, aberta em fevereiro deste ano.

‘Dobradinha estatística’

O procedimento identificado seguiria um roteiro recorrente:

  • O juiz determinava, de ofício, a realização de audiência de conciliação;
  • O cartório registrava o ato no sistema PJe e o termo era devidamente juntado ao processo;
  • Após a conciliação, sem novo despacho e sem intimação das partes, era lançada no sistema a designação de uma audiência de instrução e julgamento, para a mesma data e horário da conciliação já realizada;
  • Em seguida, era registrada a movimentação “audiência de instrução realizada”, anexando-se, no entanto, o mesmo termo da audiência conciliatória.

Na prática, esse mecanismo gerava uma “dobradinha estatística”, somando ao juiz a produtividade de duas audiências (uma de conciliação e outra de instrução) quando, na realidade, apenas uma havia sido efetivamente realizada.

O relatório preliminar aponta que a distorção afeta diretamente os indicadores oficiais do Judiciário, previstos na Resolução 15/2023, já que o magistrado passa a figurar como responsável por audiências inexistentes.

Além de comprometer a transparência e a fidedignidade dos registros processuais, a prática também pode influenciar na avaliação da produtividade da unidade jurisdicional e no desempenho funcional do próprio juiz.

Investigação sobre a produtividade

O caso vem à tona em meio à investigação do edital de promoção por merecimento a desembargador, suspenso após denúncias de ‘manipulação’ de produtividade. O corregedor do Conselho Nacional de Justiça, Mauro Campbell, na sexta-feira (19) decidiu suspender a apuração preliminar no tribunal e avocar os documentos para análise própria.

De acordo com Campbell, a medida busca apurar “um padrão reiterado de condutas com potencial de afetar a transparência do processo de promoção”.

No início do mês o CNJ já tinha suspendido a tramitação de um outro edital, para preenchimento de uma vaga de desembargador pelo critério de antiguidade. O objetivo foi garantir que a vaga só seja preenchida após o término do edital por merecimento.