O Jaguaribe Carne se reencontra com o bairro onde nasceu

Foto/Divulgação.

No bairro de Jaguaribe, o Clube dos Veteranos fica colado na USM, a União dos Servidores Municipais, na antiga Rua 24 de Maio. Em frente, está a Praça 11. Há uma bifurcação de onde saem a Avenida Alberto de Brito e a Rua da Paz.

Jaguaribe, muitas décadas atrás, tinha dois grandes carnavais de rua. Um era na Avenida Conceição, onde morava o Rei Momo Metusael Dias. Metusael tinha até o Palácio do Rei, construído pelo seu pai, por onde passavam as agremiações carnavalescas.

O outro carnaval de Jaguaribe era na Praça 11. Quem organizava a festa era um cara conhecido como “Cachimbo Eterno”, um político de dimensão municipal. Naturalmente, o carnaval da Praça 11 competia com o carnaval da Avenida Conceição.

O Clube dos Veteranos faz parte dessa paisagem. Acho que nós, que nascemos e crescemos em Jaguaribe, não usávamos o plural, mas o singular, quando nos referíamos ao clube: não era nos Veteranos, era no Veteranos.

Pois foi lá, no Veteranos, que o Jaguaribe Carne lançou o álbum Isabel, 7 Cirandas Negras e um Apito, com um show na noite de sábado, 27 de setembro de 2025. A edição física (LP e CD) ainda não está pronta, mas o conteúdo já foi para as platafomas digitais.

Conheci os irmãos Pedro Osmar e Paulo Ró em 1971, no início do ginásio, no Colégio Estadual de Jaguaribe. Eu morava na Avenida Conceição. Eles, na Rua da Paz. Passávamos em frente ao Veteranos todos os dias. Era o caminho para a escola.

Estive no clube pela última vez no início de 1980, dias antes do carnaval. Eu e Dida Fialho acompanhamos Carlos Aranha no seu frevo Rebola e Dança. Três violões e uma voz – somente isso, e, mesmo assim, ficamos com o primeiro prêmio do festival.

Voltar no Veteranos para ver o Jaguaribe Carne misturou sentimentos, mexeu com afetos, vasculhou a memória. Talvez possa resumir dizendo que foi uma noite que teve a festa que há no conjunto de cirandas e a melancolia de quem está vendo o tempo passar.

As cirandas foram compostas pelos irmãos Pedro Osmar e Paulo Ró em homenagem a Dona Isabel quando ela morreu. Pedro escreveu as letras. Paulo compôs as melodias. Dona Isabel era a mãe deles, e as cirandas são lindas de fazer chorar.

Esse conjunto de cirandas tem a força da tradição, das fontes, das raízes, das matrizes e leva o Jaguaribe Carne – e nós, os ouvintes – a um negócio que já existia antes do próprio Jaguaribe Carne. É roots, mascom a digital de quem ousou, transgrediu, experimentou.

Pedro Osmar se recupera de um AVC e viu o show da plateia. No palco, Paulo Ró tocava um tambor ao lado das quatro mulheres – a companheira Tina, as filhas e uma cunhada – que cantam as cirandas. Um power trio – guitarra, baixo e bateria – completava a cena.

As vozes femininas evocam as velhas cirandas. Paulo Ró parece dizer: “Mas é o Jaguaribe Carne que está aqui”, organizando o movimento, orientando o carnaval. E o power trio é o rock que passou pelas nossas vidas quando nos fizemos ouvintes de música.

Totonho fez uma participação. Totonho é “filho” do Jaguaribe Carne. Capilé estava na plateia. Alex Madureira, também. Costumo dizer que, por volta de 1970, 1971, Alex foi o cara que, antes de tocar guitarra, introduziu a guitarra de Jimi Hendrix em Jaguaribe.

A plateia estava cheia de pessoas da geração de Pedro Osmar e Paulo Ró. Mas havia também uma garotada que, mesmo pertencendo a outro tempo, a outros códigos, é atraída pela música do Jaguaribe Carne e entende a dimensão histórica do grupo.

O calor era grande, o som era ruim, mas não importavam o calor e o som. O que importava era testemunhar o reencontro do Jaguaribe Carne com o bairro de Jaguaribe. No palco do Veteranos, no salão do Veteranos. Com a Praça 11 na frente.