Impressões sobre A pior pessoa do mundo, longa norueguês indicado ao Oscar
Se todo ano a lista de indicados ao Oscar revela gratas surpresas, podemos dizer que A pior pessoa do mundo é uma delas em 2022. O filme noruegues, está indicado na categoria internacional e, para dizer a verdade, tem bem poucas chances diante de Drive my Car. Mas isso é conversa de quem gosta das especulações em torno do prêmio da academia.
Um fato: o longa protagonizado por Renate Reinsve, vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes, provoca uma montanha russa de emoções. Dá para rir e também chorar com toda a originalidade dessa tragicomédia romântica.
Tudo gira em torno de quatro anos da vida de Julie (Renate Reinsve). Acompanhamos o processo de amadurecimento dela desde as escolhas (ou não) feitas no período da faculdade e, logo, os relacionamentos, amorosos e familiares. Em resumo: a protagonista não parece saber bem o que quer. Ela segue o fluxo da vida. E essa liberdade dela é um dos pontos altos na construção dessa personagem.
Acertar e errar são movimentos naturais da vida. Não é porque você porventura cometa equívocos na hora de escolher que será pior pessoa do mundo.
Da literatura para o cinema
O longa se organiza em um prólogo, doze capítulos e um epílogo. A presença constante de uma narradora também serve para nos situar como se fosse dentro de um livro. Assim, vamos conhecendo não apenas a alma livre da moça, como também onde moram as inseguranças dela e onde nascem os padrões de autodestruição. Na família, na relação com o pai, na busca por aceitação. Enfim, motivos corriqueiros e humanos.
Do ponto de vista de direção, tem uma sequência que Joachim Trier (que também é roteirista ao lado de Eskil Vogt) particularmente brilha. É quando ele literalmente para o mundo para as divagações de Julie. Outra passagem bem legal com ótimas sacadas de roteiro é a cena da festa do casamento. Falar mais que isso é cair o risco de spoiler.
Elenco
Sobre a interpretação, além de Renate Reinsve, vale mencionar também o trabalho de Anders Danielsen Lie como Aksel. É um personagem que tem uma curva de transformação bastante intensa e o ator dá conta desse movimento sem cair em clichês.
Outros pontos a se prestar atenção:
A trilha sonora
A música do filme vai mudando de acordo com as fases da personagem. Se o tom do início é, digamos, otimista, a medida em que Julie se transforma, a sonoridade também. Fora o tanto de clássico tipo The way you look tonight, com Billie Holiday e Waters of March, na versão de Art Garfunkel.
Frases de impacto
E mais: se você for fã de citações, o longa tem várias. Ou seja: veja o filme ao lado do seu bloco de notas. Por exemplo: “Eu sempre me preocupei que algo pudesse dar errado, mas as coisas que deram errado nunca foram o que me preocupava”. Uau!
Outra: “Este é o cerne do nosso relacionamento. Tudo o que sentimos, temos que colocar em palavras. Às vezes, eu só quero sentir as coisas. Você insiste em ser tão forte o tempo todo. Para você, ser forte é formular coisas. Se você analisa as coisas em todos os níveis psicológicos, pensa que é forte. Porque sou menos analítico, você acha que sou mais fraco”.
A pior pessoa do mundo não é apenas uma tragicomédia romântica. É uma anti comédia romântica. Se uma característica comum desse gênero era abordar as relações românticas de maneira doce e utópica, o longa quebra essa regra. É um filme romântico? Sim, mas realisticamente romântico. Como nas histórias de amor reais, tem seus momentos apaixonantes, doces, outros cheios de inseguranças, dúvidas, algumas escolhas erradas outras certas. É a vida. Ninguém é melhor ou pior por isso.
A pior pessoa do mundo. Foto: Diamond Films