A jovem guarda nunca foi um movimento, a jovem guarda era um programa de televisão

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A bossa nova, na virada da década de 1950 para a de 1960, foi um movimento que deu dimensão internacional à música popular do Brasil. O tropicalismo foi um movimento que, em 1967/68, retomou a linha evolutiva da música popular brasileira.

A jovem guarda nunca foi um movimento. A jovem guarda foi um programa de televisão. Nesta sexta-feira, 22 de agosto de 2025, faz 60 anos da sua estreia.

A jovem guarda era do tempo em que a TV Record pertencia a Paulo Machado de Carvalho. Ainda não havia caído nas mãos do bispo Edir Macedo.

A jovem guarda era do tempo em que a TV Record prestava. A emissora desempenhou papel fundamental na história da música popular brasileira.

A TV Record de São Paulo tinha o Fino da Bossa, com Elis Regina e Jair Rodrigues, tinha a Jovem Guarda, com Roberto, Erasmo e Wandeléa, e os festivais de MPB.

Havia uma rivalidade entre o Fino da Bossa e a Jovem Guarda. Os defensores da MPB gostavam do Fino da Bossa e consideravam a Jovem Guarda alienada.

O Fino da Bossa era música popular brasileira. A Jovem Guarda era Iê-iê-iê. A emissora estimulava a rivalidade entre os dois programas. Dava audiência.

Houve até a passeata contra a guitarra elétrica, que Caetano Veloso e Nara Leão viram de longe, da sacada de um hotel, e acharam que parecia com o Integralismo.

Maria Bethânia, que chegara ao Rio para substituir Nara no Opinião, foi quem chamou a atenção de Caetano para a vitalidade que ela enxergava na Jovem Guarda.

Caetano constatou e passou a defender a Jovem Guarda. “Você precisa…ouvir aquela canção do Roberto”, dizia ele na letra de Baby, que Gal Costa gravou.

O programa Jovem Guarda era comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa e tinha uma porção de convidados, entre conjuntos (ainda não se dizia banda), duplas, artistas solo. Mexeu com comportamento e moda da juventude da época.

Se você quer conhecer o elenco que frequentava o programa, basta ouvir o rock Festa de Arromba. Está em A Pescaria, primeiro álbum de Erasmo, lançado em 1965.

Em 1965, Roberto Carlos lançou o álbum Jovem Guarda. É lá que está Quero que Vá Tudo pro Inferno, a mais icônica entre todas as músicas do tempo da jovem guarda.

O programa Jovem Guarda teve vida curta. Assim como o Fino da Bossa e mesmo a era dos grandes festivais. Entrou no ar em 1965, ficou até 1968.

O pós foi melancólico pra quase todo mundo. A maioria dos artistas lutou a vida inteira para se manter em evidência, mas, quase sempre, a luta foi inglória.

Três nomes sobreviveram, cada qual à sua maneira. Wanderléa tentou trocar a figura da Ternurinha por um lugar no qual fosse respeitada pela turma da MPB. Nunca conseguiu direito, mas também nunca enfrentou um total ostracismo.

Erasmo Carlos teve mais sorte. Primeiro, porque era parceiro de Roberto Carlos na autoria das canções. Depois, porque soube mesclar o rock ingênuo da juventude com um rock mais maduro e um permanente flerte com a turma da MPB.

O único grande sobrevivente da Jovem Guarda foi Roberto Carlos. Deixou de ser Rei da Juventude para ser o Rei. Amadureceu junto com seu público. Está com 84 anos e, há muito tempo, é o artista mais popular e mais amado da música popular do Brasil.

Em 1977, quando, aos 36 anos, gravou Jovens Tardes de Domingo, Roberto Carlos já se referia à Jovem Guarda com versos como “Tantas alegrias/Velhos tempos/Belos dias”.